Knight and Day (2010)

Feijão-frade. Feijão-frade com atum, para ser exacto. Se numa situação hipotética me encontrasse entre as vítimas do Jigsaw – lá para o 37º capítulo da saga – e tivesse de disparar qual o prato que mais vezes comi na vida antes que uma geringonça qualquer me encolhesse os tintins como fazem com as cabeças em África, esse seria o primeiro que me ocorreria. Desde que me lembro que pelo menos uma vez por semana devoro uma pratada de feijão-frade com atum e ovo cozido, condimentado com salsa e regado de azeite. As vantagens de tornar um hábito o consumo de tal iguaria são várias. É saboroso, prático – fácil e rápido de preparar -, barato e nutricionalmente rico, com saudáveis proporções de hidratos de carbono e proteínas. O único senão que me vem à cabeça é o de ser, à semelhança de qualquer feijão digno desse nome, potenciador de problemas de flatulência. Ora este pequeno efeito secundário foi-me relembrado na semana passada, quando me vi obrigado a dar os restos do almoço ao meu labrador. Como se sabe, os labradores, além de serem os mais eficazes vendedores de papel higiénico do mundo, são também conhecidos pelo apetite insaciável. Neste caso, o bichinho em questão foi habituado a comer ao almoço meia caixa daquele paté gelatinoso que se vende dos supermercados, só para enganar. O problema é que me esqueci de repor o stock disso da última vez que fui às compras, por isso não tive alternativa que não fosse dar o resto do feijão ao cão, pois a hipótese de ter de aturar durante o resto do dia um monstro de 42 quilos que em termos de tácticas de guerrilha faz o tal Marley do filme parecer o Gandhi nem se colocava. Resultado: andou a tarde toda com os intestinos num rebuliço e, à noitinha, deitado junto aos meus pés no escritório, ao levantar-se soltou o maior traque que os meus ouvidos tiveram o privilégio de escutar.

E o que tem esta pitoresca narração a ver com Knight and Day, de James Mangold? Muita coisa. O filme aqui tratado pouco mais é do que um longo e ruidoso peido. Pode ter brotado do rabinho de um cão com pedigree (direcção e elenco) que custa uma fortuna a sustentar (orçamento), e pode até dar azo a uma risadinha marota ou outra, mas não deixa de ser mal-educado, despropositado e de valor cultural nulo. Sequências impossíveis e idiotas, diálogos inenarráveis, dispersa-se por tudo o que é género, não se sabendo se é comédia, acção, paródia ou chick flick. Um filme dispensável, que nada traz de novo, daqueles que é para ver e esquecer logo a seguir. A diferença para o típico filme de Domingo à tarde poderia estar no par protagonista, mas tanto Tom Cruise como Cameron Diaz estão claramente decadentes, o primeiro muito por culpa dos episódios ridículos da sua vida privada que nos levam a ver um lunático de olhos esbugalhados sempre que o apanhamos em cena, a segunda porque a verdade é que o talento nunca existiu e, mesmo quanto à aparência, a idade não perdoa – mas não dispensa a inevitável sequência em cuecas. Até Peter Sarsgaard, um actor que prezo, se limita a picar o ponto.

Só que, apesar de ser um filme medíocre, Knight and Day ficará para sempre gravado na minha memória como aquele onde aprendi que os Açores são ilhas tropicais (!). Qual Cuba, qual República Dominicana, qual quê. Poupemos o dinheirinho, evitemos a seca que é uma viagem transatlântica e vamos mas é esparrameirar-nos ao tórrido sol dos Açores para ajudar a economia nacional!  

 

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2 respostas a Knight and Day (2010)

  1. Graziela Matos diz:

    Olá 🙂
    Acho que és um bocadinho duro de mais com o filme. Na minha opinião, como filme de puro entretenimento está muito razoável, adequado para ir ver ao cinema com os amigos e grandes baldes de pipocas. Quanto aos actores, a química entre o Tom e a Cameron é evidente, além de continuarem giros como sempre. Mas sim, essa dos Açores foi mesmo muito má.
    Passando a coisas realmente importantes, como está o teu cãozinho? 😉

    • Cumprimentos, Graziela. 🙂

      Tens direito à tua opinião, obviamente. Mas não deixo de achar que é um filme sem ponta que se pegue e que mais valia terem usado o budget para fazer algo de jeito, mesmo dentro da área do entretenimento “vazio”. Ah, o guloso do cão está bom, e pronto para outra dose que possa aparecer. 😉 Obrigado pela visita!

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